Diálogos entre educação
e cultura no Galpão das Artes com doses de solidariedade
A
educação permanece um direito de todos esperançando o pleno desenvolvimento do
cidadão.
Compreende-se que o sujeito aprende
para se humanizar. E aprende-se na relação com o próximo, no diálogo com o
próximo, na aproximação dele com o conhecimento do outro realizando uma leitura
de mundo.
Diante disso, as ações no Centro de
Criação Galpão das Artes (Limoeiro-PE) nos últimos anos trilham práticas com
arte e cultura indo além dos muros da escola estimulando trocas de saberes e
fazeres diversos. Revelando para o mundo a arte do teatro e de outras
expressões da cultura popular pernambucana, conectando crianças e adolescentes,
por meio da cidadania, ao primeiro contato com a produção artística, por meio
do convívio com os agentes culturais e as oficinas. De forma muito
dinâmica são realizados cursos, oficinas de teatro, apresentação de novos
espetáculos, divulgação do trabalho dos artesãos locais, através de exposições
e muito mais. O espaço é coletivo e
conta com uma assídua presença de alunos da rede pública de ensino da educação
municipal e estadual dos territórios de Limoeiro e região. No local, eles
aprendem a confeccionar os próprios brinquedos e são incentivados à prática da
leitura e da produção textual.
Nesses tempos de brinquedos eletrônicos e virtuais,
o Centro de Criação Galpão das Artes possui um acervo que celebra o imaginário
popular da cultura da infância, alegre e colorido dos brinquedos populares: a
mula manca, o rói-rói, o mané gostoso, a bola de gude, o pião, a peteca, as
bonecas de pano, entre outros. A proposta para esse salvaguardar surge do desejo
em manter viva a arte e a memória chegando mais próxima das futuras gerações.
Indubitavelmente que existem tradições que vão se perdendo ao longo do tempo e
que crianças e adolescentes desconhecem na atual conjuntura. Com um mundo cada
vez mais tecnológico tudo foi se modificando. Com isso, as tradições passaram a
ser esquecidas porque não existia um projeto de salvaguarda. E a criação do
Minimuseu dos Brinquedos Populares Dona Daluz encanta todos que visitam das
diferentes faixas etárias. Adultos tornam-se crianças ao vislumbrarem os
brinquedos presentes na sua infância. Já as crianças se encantam com os
tradicionais jogos.
Protegendo o brinquedo popular, para que a tendência
de homogeneização cultural não o faça desaparecer da nossa história, ou até
mesmo reduzindo o brinquedo popular a apenas pequenos rastros da cultura
brasileira. Que a padronização cultural não reduza ainda mais as classes
produtores e participantes, em meras consumidoras. Quanto maior for o avanço
industrial e a influência da mídia, mais distante de nosso conhecimento se
tornará o brinquedo popular, que cada vez mais sairá do controle familiar,
perdendo valores culturais. Não é suficiente apenas guardar o brinquedo
popular, é preciso conservá-lo, informar sobre seu contexto e interferir o
mínimo possível para que o espectador compreenda a criação do artesão-artista
de forma natural.
Preservar os mais diversos brinquedos populares nos
museus é o modo mais seguro de devolver e relembrar as origens, as pessoas que
não vivenciam mais em seu cotidiano as tradições. Resguardar os brinquedos
populares herdados das gerações passadas, e os construídos no presente
possibilita manter um ciclo de memória e conhecimento para as gerações futuras.
A chegada dos brinquedos populares aos museus além de ter modificado sua função
primária de objeto não estático e funcional na ação de brincar, para objeto
estático e funcional de modo não manipulável, o tornou uma declaração histórica,
cultural e artística.
Da mesma forma confirma-se com os artistas
dos diversos circos. O circense é um mestre no picadeiro que sensibiliza
compartilhando conteúdos múltiplos que exercem uma interface entre a lei da
sobrevivência e o seu talento.
O artesão, o músico e os demais
artistas dialogam com maestria o protagonismo que toda forma de saber é
legítima quando do outro para o outro a partir de seu território.
Há
quem pense ainda que o artista é só feito de glamour e aplausos ou que a
profissão do artista cênico, aquele do teatro, é coisa supérflua e até há quem
ache que a arte não é essencial numa sociedade.
Além
da arte ser uma das revelações do espírito humano, muitos dos nossos artistas
cênicos, além de levar para os palcos, ruas, circos e arenas espetáculos que
entretém e nos faz refletir sobre o ser humano e o mundo, também desempenham um
papel social onde estão inseridos.
E
este papel é um dos que o Centro de Criação Galpão das Artes, de Limoeiro,
desempenha na sua comunidade. Os artistas da companhia desenvolvem o programa
Arte Educação e que atende 25 crianças, mas em tempo de pandemia, a que nos
assola agora, se faz ainda mais necessário que esta ação social tenha
continuidade.
A
educação aliada com a cultura descortina novos jeitos na transversalidade entre
os múltiplos setores; mesmo com tempos sombrios e em diferentes lugares deste
país que a coragem sobrevive esperançando dias melhores.
Fábio André de Andrade
Silva, arte educador limoeirense e coordenador do Centro de Criação Galpão das
Artes

Nenhum comentário: