Um mergulho na “pernambucanidade” | Crítica “O Peru do Cão Coxo”




Por Cleyton Nóbrega.
Recife, janeiro de 2020.
Um mergulho na “pernambucanidade”
“Quem de fato tem juízo
Não vai dar trela a mentira
Nem bulir com o egoísmo
Nem com orgulho, ou a ira
Mas um dos grandes defeitos
Que acontece aos eleitos
É a ganância e a ambição
Que esta ajunta todo vício
E joga no precipício
Todo incauto sem perdão”…
-Merlânio Maia
Fazendo parte da programação do 26º Janeiro de Grandes Espetáculos, a peça “O Peru do Cão Coxo”, do Centro de Criação Galpão das Artes / Limoeiro, PE, dialoga de maneira engraçada e encantadora sobre o viver. Enaltece a cultura pernambucana e seus folguedos. Depois que todos estavam acomodados no Teatro de Santa Isabel, vemos as luzes indo embora de pouco a pouco, todos começaram a ouvir os sons de tambores e cantos, todo o elenco, tal qual uma trupe circense, seguiu em direção ao tablado e interagindo com o público, sorriam e vibravam, e, além disso, o figurino é belíssimo; a maquiagem é delicada e assertiva, o elenco é afiado, não deixa buracos na encenação.
E como foi divertido estar ali, todos sorriram do inicio ao fim da peça, o grupo optou por pautar a encenação quebrando a quarta parede, um diálogo direto com os preceitos do alemão Bertolt Brecht. O cenário cheio de cores dialogava de maneira mágica com a iluminação, criando-se assim, uma atmosfera gostosa, suave. Havia dois bancos e diversos instrumentos musicais espalhados no palco, os atores que não estavam em cena, faziam a sonoplastia do espetáculo. A espacialidade foi bem utilizada pelo elenco, os objetos cênicos também. Essa interação e afinidade do elenco se refletiram na cena, a interpretação era muito natural, pois todos estavam livres no tablado, o improviso era natural… Lembraram-me de certa maneira os personagens da Commedia Dell’arte, os enamorados; o esperto e pobre poeta, Simão e sua dedicada e gentil esposa, Nevinha, encantaram a todos com suas trapalhadas e peripécias, e como não falar do engraçado casal de ricos Aderaldo Catacão e Clarabela? Clarabela que inclusive era uma aficionada por poesia, troca dois dedinhos de prosa sobre tal assunto com Simão, e falaram sobre o eu lírico, métrica, arte o fazer do artista, a metalinguagem é algo presente em todo espetáculo do inicio ao fim.
O espetáculo remonta essa forte relação do nordestino com a religiosidade cristã-católica, parte do simples, das belezas da vida, enaltece nossa “pernambucanidade” um salutar para nós e nossa região. E onde fica o peru? E o cão Coxo? Ah… Eles roubam a cena e vocês só vão descobrir algo concreto sobre isso e muito mais se tiverem a oportunidade de assistir ao espetáculo.
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