O mamulengo ganha o corpo de atores e, das feiras, vem alegrar o FIG

Jorge Farias
Descrição para a fotografia.
Leidson Ferraz
Ao som de cocos e emboladas, e vestindo figurinos exuberantemente coloridos, atores “quase bonecos” deram o ar da graça no palco da Cultura Popular deste sábado, 16 de julho. Poderia até ser uma apresentação musical, já que a introdução foi feita pelo coquista de Tracunhaém, Mano de Baé, mas tratava-se de um espetáculo de teatro de rua que, diante da chuva, teve como abrigo o palco armado na avenida Santo Antônio. A divertida peça do Centro de Criação Galpão das Artes Pontinho de Cultura, de Limoeiro, foi apreciada por quase uma centena de curiosos espectadores, uns tantos, embaixo de chuva mesmo, e outros, no palco, gente como Quitéria Torres, 41 anos, natural de Maceió e que veio passar este final de semana no frio garanhuense. Um dos tamboretes dispostos em formato arena para a cena foi ocupado por ela, tendo ao colo o filho de uma amiga, o pequeno Omar, de três anos.

“Saí de casa e me deparei com esta peça. Como não tenho tantas oportunidades de assistir teatro de rua em Maceió, resolvi ficar. Até os 36 anos, eu era muito presa a questões religiosas e agora busco ter mais contato com a cultura. Foi interessante perceber a alegria que todos estes atores conseguem despertar na gente”, disse ao final da apresentação. Ao seu lado, o produtor cultural Carlos Lima, de 47 anos, natural de Olinda, mas há dez anos morando em Garanhuns, vibrava pelas imagens que conseguiu captar numa filmadora. “Vou mostrar trechos da peça para um grupo de teatro que pretendo formar no município de São João, há 14 km de Garanhuns. Vai ser um incentivo para eles conferir como os artistas de Limoeiro conseguiram contextualizar a obra do Suassuna num formato para a rua e com tanto humor”, comemorava.

“A Inconveniência de Ter Coragem ou Uma Presepada de Suassuna na Feira” é o mais novo espetáculo da trupe limoeirense liderada há dez anos pelo diretor e produtor Fábio André. A peça é, na realidade, o primeiro ato do texto “A Pena e a Lei”, do dramaturgo paraibano Ariano Suassuna, já encenado em 2002 pelo mesmo grupo e visto até em Coimbra, Portugal. “Fizemos uma nova versão, agora para a rua e com os atores cantando e tocando com um coquista por perto. Esse casamento do coco com bonecos funcionou. Deu um ar mais festeiro e ressaltou uma manifestação da cultura popular que é próxima da nossa região”, explicou. A montagem investe na estética mamulengueira, com os atores praticamente sendo bonecos. O trabalho físico do elenco, priorizando gestos grotescos e intensa movimentação, é um dos destaques.

Na trama, as presepadas do malando Benedito, negro esperto, apaixonado pela ingrata Marieta que, chamando-o de “comida de onça”, teima em ver a valentia do rapaz. Para isso, ele decide desmoralizar o fazendeiro Vicentão Borrote e o delegado Cabo Rosinha, dois outros pretendentes da moça. O texto ressalta a ideia de que o mundo é dos mais espertos e é uma delícia acompanhar termos como “chapuletada”, “catolés” ou “cagaço”, com a irreverência própria do mamulengos, ops, “atores quase bonecos”. A encenação tem ido a feiras de vários municípios (em breve estarão em Passira, Salgadinho, Cumaru e João Alfredo), “algo que vem dando certo, quase como uma intervenção urbana”, comenta o diretor. No próximo dia 20, o espetáculo participa do Festival Nacional de Teatro de Rua de Aracati, no Ceará. No elenco, Jadenilson Gomes, Tarcísio Queiroz, Charlon Cabral, Lucas Rafael e Kéttuly Muniz.
O mamulengo ganha o corpo de atores e, das feiras, vem alegrar o FIG O mamulengo ganha o corpo de atores e, das feiras, vem alegrar o FIG Reviewed by Centro de Criação Galpão das Artes on 05:12 Rating: 5

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.