A HISTÓRIA DE DONA DALUZ
Maria José de Albuquerque, nasceu em 10 de fevereiro de 1918, no Córrego do Pilão, Sítio Passassunga, no município de Limoeiro – PE. Filha de Tomás Alexandrino de Albuquerque e Francisca Maria de Albuquerque, era a caçula de uma numerosa família: 04 mulheres e 04 homens.
Era bisneta
de uma “cabocla braba pegada no mato” como dizia. Portanto, descendente de
índios, negros e brancos, apesar de muito alva, olhos azuis e cabelos pretos,
longos e lisos. Por aquelas bandas, sua família era a única de cor branca,
apesar da descendência mestiça.
Sua infância e adolescência
consistiram num longo arrastar-se de anos, numa vida quase selvagem e numa
completa ignorância da sociedade civilizada. De família muito pobre, cresceu
vendo seu pai trabalhar para o senhor de engenho. E sua mãe, fazendo renda de
bilros para a senhora de engenho. Ofício que logo cedo, D. Daluz aprendeu e
tornou-se uma rendeira tão habilidosa quanto sua mãe.
Começou a
juventude com a mudança do Sítio Passassunga para o Sítio Cabeça de Vaca,
também em Limoeiro. A vida tomou novo sentido; as trevas do absoluto alheamento
da civilização foram aos poucos se dissipando.
Estava sempre disposta para qualquer trabalho, mesmo o mais duro. Porém,
ela e as irmãs foram vítimas do machismo
exacerbado dos irmãos que não respeitavam sua condição de mulher. Eram
obrigadas a fazer o mesmo serviço pesado que eles. Ir à escola era o seu maior
sonho de adolescente que lhe acompanhou por toda a vida. Mas o estudo era
proibido para as mulheres de sua família.
Casou aos
vinte e cinco anos, Filomeno Pereira de Barros, Sr. Filó. Trabalhador de
alugado, viúvo, com seis filhos pequenos que lhe foram confiados para criar.
Foi morar no Sítio Mendes, onde permaneceu até 1977, quando mudou-se para a cidade,
indo morar na Rua do Apito, no Bairro de S. Sebastião. Próximo à Igreja de S. Sebastião, continuou
ali a alimentar sua religiosidade, frequentando a missa todos os domingos e
participando de todos os eventos religiosos.
Travou uma luta árdua para educar os 07 filhos de Sr. Filó e mais os seus que aos
poucos chegavam, até completar 12. Viveu a fase mais triste e difícil de sua
vida: o seu verdadeiro martírio, segundo ela. Não tinha o mínimo de condições
financeiras que favorecessem viver dignamente.
Nunca soube
o que era vaidade. Na juventude, nunca usou calças compridas, ou pintou as
unhas, ou se maquiou. No entanto, foi de
uma feminilidade fina, sensível. Falava muito alto, mas era delicada e amorosa.
Foi mulher, mãe, esposa, dona de casa e, devido à pobreza em que sempre viveu,
desenvolveu grande criatividade para driblar as dificuldades.
Foi uma artesã eclética, que tinha
muitas habilidades: costurava à mão, as roupas dos filhos e enteados. Depois,
ganhou de Sr. Filó, uma máquina de costura usada para poder costurar e fazer
roupas mais bem acabadas; Com os retalhos dos tecidos que sobravam das roupas,
produzia fuxicos para fazer colchas, blusas, toalhas de mesa; saias e vestidos
de retalhos. Uma florista de mão cheia, utilizava a palha de milho, tecidos,
tampas de alumínio das embalagens de leite em pó, papel crepom, para confeccionar
flores para enfeitar a casa, o altar de N. Sra. Da Conceição, fazer os buquês
para as noivas, capelas de 1ª comunhão para as crianças da comunidade. Além das
flores, fazia lanternas com papel celofane para as procissões da igreja.
D. Daluz, como era conhecida por
todos da comunidade, foi um grande exemplo de mulher. Durante toda sua vida não
se deixou vencer. Lutou contra todos os obstáculos. Demonstrou sempre uma
grande força física e moral; cultivou fervorosamente uma fé viva n’ Aquele que
lhe concedeu a vida.
Faleceu em 09 de junho de 1997, na
cidade de Limoeiro.

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